Você já reparou que escova os dentes sempre com a mesma mão?
Talvez você argumente que isso acontece por ser destro, ou canhoto. Mas note, ao vestir a calça, é sempre a mesma perna que entra primeiro, certo? Não é um ato aleatório, é uma decisão, mas não tem nada de racional. Não é uma escolha consciente. Quando você toma uma atitude, se o resultado for satisfatório, a tendência é repeti-la quando diante dela novamente. E, ao repetir, e repetir, e repetir, o seu cérebro vai armazenar esse procedimento na gaveta das rotinas, chamadas gânglios basais. É o arquivo dos hábitos e dos reflexos condicionados.
Toda atitude recorrente com resultado bem-sucedido é tirada da gaveta das coisas que temos que pensar para fazer, e é guardada na gaveta das coisas que fazemos sem pensar.
Se esses “pilotos automáticos” se instalam sem grandes dificuldades, sem que percebamos, eles também podem ser instalados deliberadamente por nós. Poupar, se alimentar bem, fazer exercícios regularmente, podem ser armazenados nessa gaveta. O problema é que dois comandos conflitantes não podem ser armazenados na mesma gaveta.
Por isso reaprender algo é bem mais complexo do que aprender. Mas dá para fazer, só que em duas etapas, e não apenas uma. Termos que remover um para o outro se instalar.
A construção e a desconstrução de hábitos seguem a mesma mecânica. Temos que usar algo para grudar os bons hábitos, que é o PICHE. Oi? Pois é, em português, não faz muito sentido, mas em inglês sim. O piche - em inglês TAR - é o que faz os hábitos grudarem no cérebro. TAR é um acróstico de:
T – Trigger (gatilho)
A – Action (ação)
R – Reward (recompensa)
Então, vamos lá! Temos que desativar os hábitos que nos fazem mal. E esses hábitos são desencadeados por gatilhos.
Quem já foi desanuviar a cabeça de tristezas ou decepções com uma volta no Shopping, e voltou com algumas sacolas de compras nas mãos, ou está feliz com uma conquista e torra aquela grana para comemorar, está criando na tristeza e na alegria gatilhos para o consumismo e a perda de controle, pois o prazer de adquirir, ou de consumir, é entendido como recompensa, liberando dopamina, que é o hormônio da satisfação.
Ao repetir essas atitudes, a rotina se instala, pois o cérebro não se sente motivado a procurar outras fontes de prazer. Ele te leva sempre pelo caminho mais fácil, o que ele já sabe que vai dar resultado. Então, essa talvez seja a etapa mais “dolorosa” da cura: a atenção aos gatilhos e a força de vontade de, racionalmente, evitar o caminho fácil.
Se seu cérebro precisa de dopamina, alimente-o com atitudes menos consumistas, mas também prazerosas. Já que não podemos eliminar os gatilhos, precisamos substituir as ações decorrentes deles.
Bem, já identificamos os “Ts” (Triggers), e escolhemos substituir os “As” (Actions). Agora, vem a parte mais importante, que são os “Rs” (Rewards).
Como nosso cérebro gosta dos caminhos mais fáceis e simples, ele prefere sempre as recompensas mais imediatas. Voltar para casa cheio de sacolas, afogar as mágoas naquele vinho caro, ou se saciar em um restaurante badalado são recompensas imediatas.
Poupar para poder realizar o sonho da casa própria sem dívidas, ou alcançar a independência financeira pode trazer recompensas incríveis, mas não imediatas. Então, precisamos dar visibilidade aos resultados enquanto eles estão se formando.
Quando poupamos e investimos para a nossa liberdade financeira no futuro, esse é um objetivo que pode levar 10, 20 30 anos para ser alcançado. Se ficarmos sempre olhando para o alvo, lá na frente, sempre teremos a sensação de que mal arranhamos o verniz, e isso não nos recompensa. Então, é importante utilizar ferramentas que nos sinalizem a velocidade de cruzeiro que estamos imprimindo.
Com isso podemos fazer uma boa gestão dos nossos sonhos. Imagine que seu objetivo seja formar um patrimônio de R$2 milhões ao fim de 30 anos. Você começa cheio de vontade, mas ao fim de um ano, terá acumulado menos de R$40 mil.
Olhando assim, você pode até se desmotivar. Menos de 2% do total? Não vou atingir meu objetivo nunca! Mas vou te dizer que, nesse momento, você está bonito na foto. Na velocidade de cruzeiro ideal, você deveria ter pouco mais de R$30 mil.
Então, está bonito na foto, basta continuar nesse ritmo, e o objetivo será alcançado, talvez até antes, ou maior do que o planejado.
Então, vamos lá? Vamos derreter o piche que nos prende aos velhos hábitos, e usar um novo piche para grudar novos e melhores hábitos em nossos cérebros. Identifique com clareza seus gatilhos, escolha com carinho suas ações, e preste atenção às recompensas de cada dia.
Seu futuro agradece.